Na semana passada, em 29/07/10, o professor Dion�sio Dias Carneiro Netto
faleceu, aos 64 anos, na sua cidade natal, o Rio de Janeiro. A carreira
e trajet�ria do professor Dion�sio est�o intimamente ligadas ao
Departamento de Economia da Pontif�cia Universidade Cat�lica do Rio de
Janeiro (PUC-Rio), criado em 1963, e, logo, aos rumos da ci�ncia
econ�mica (na teoria e na pr�tica) no Brasil desde a d�cada de 1970.
Dion�sio Dias Carneiro Netto graduou-se
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fez mestrado na
Funda��o Get�lio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ) e foi para a
universidade de Vanderbilt (Tennessee, EUA) estudar com o controverso
Nicholas Georgescu-Roegen, l� terminando os cr�ditos e exames de
qualifica��o para o doutorado. Na volta ao Brasil, em 1972, ele passou
um ano e meio como professor colaborador do Departamento de Economia da
Universidade de Bras�lia (UnB), um m�s como professor visitante do
centro de p�s-gradua��o em economia da universidade federal do Cear�
(CAEN), tornando-se posteriormente professor titular dos cursos de
mestrado e doutorado da Escola de P�s-Gradua��o em Economia da FGV
(EPGE, FGV-RJ, 1974-1977). Em agosto de 1977 Dion�sio tornou-se
professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, l� ocupando v�rios
cargos administrativos e passando um ano e meio como pesquisador do
Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (IPEA), at� sua aposentadoria
em dezembro de 2006. Durante estes anos todos ele participou de
comiss�es da CAPES, CNPq, ANPEC e foi vice-presidente da Financiadora
de Estudos e Projetos (FINEP, Secretaria de Planejamento da Presid�ncia
da Rep�blica).
Na UFRJ Dion�sio estudou com Octavio
Gouv�a de Bulh�es, um economista preocupado essencialmente com quest�es
relacionadas � pr�tica de pol�tica econ�mica. Na FGV-RJ ele estudou com
outro economista de grande destaque, M�rio Henrique Simonsen, que
participou diretamente da formula��o de pol�ticas econ�micas em
diversos momentos da hist�ria brasileira. Tal como seus dois ilustres
professores, Dion�sio tinha grande apre�o pelas quest�es de pol�tica
econ�mica. Ao contr�rio de seus mestres, no entanto, nunca ocupou
cargos na administra��o p�blica direta, embora tenha sempre participado
do debate p�blico sobre pol�ticas econ�micas e conjuntura nacionais
(tamb�m escrevendo regularmente colunas em jornais como o Jornal do
Brasil, Folha de S�o Paulo e O Estado de S�o Paulo, e mais recentemente
participando de programas televisivos).
Seu interesse por um debate econ�mico
qualificado ia al�m da sala de aula e norteou tanto seu trabalho como
consultor econ�mico e conselheiro, como tamb�m sua participa��o na
cria��o do Instituto de Estudos de Pol�tica Econ�mica (IEPE, da Casa
das Gar�as) no in�cio desta d�cada — um instituto que tem como objetivo
auto-declarado o de “contribuir para a discuss�o de temas relacionados
� situa��o s�cio-econ�mica do pa�s” atrav�s de discuss�es e semin�rios
“sobre t�picos de relev�ncia para a pol�tica econ�mica brasileira”.
Tanto em sua Galanto consultoria como no IEPE, Dion�sio sempre
interagiu, valorizou e nutriu v�rios jovens economistas (muitos deles
alunos de gradua��o e mestrado na PUC-Rio).
Como professor, Dion�sio Dias Carneiro
Netto formou, juntamente com seus colegas da PUC-Rio, gera��es de
economistas que vieram a ter papel de destaque tanto na formula��o de
pol�tica econ�mica no Brasil, especialmente no per�odo dos governos de
Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso (1992-2002), como no setor
privado. Na sala de aula e fora dela o professor Dion�sio demonstrava
sua paix�o pela macroeconomia e valorizava n�o apenas a busca
continuada de conhecimento como principalmente a integridade,
honestidade e respeito intelectuais. Uma pessoa ponderada, ele tinha
suas convic��es e as expressava, mas n�o sem respeitar posi��es
alternativas bem articuladas. Era este respeito que lhe permitia
valorizar os interesses e inclina��es de seus alunos, mesmo que
variados fossem. E ele tinha grande apre�o pela hist�ria de sua
ci�ncia: ele me disse certo dia em uma conversa que planejava estudar
mais os economistas passados, tanto que j� tinha v�rias “grandes obras”
em uma estante de sua sala, mas tal projeto teria que ficar para sua
aposentadoria, dada a falta de tempo caracter�stica de sua rotina. �
uma grande tristeza ver abreviada a vida deste homem admir�vel.
Pedro Garcia Duarte (Departamento de Economia, FEA-USP)
04.08.2010